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Contos-->CONTOS AMAZÔNICOS(A HITÓRIA DE UMAÚ) -- 30/03/2000 - 15:13 (MÁRIO JORGE MOREIRA DOS SANTOS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CONTOS AMAZÔNICOS (A HISTÓTIA DE UMAÚ)
Sou professor e nas minhas férias fui conhecer a floresta Amazônica. Eu e um grupo de mais dois amigos saímos numa excursão ecológica. Tudo naquele lugar me fascinava, a floresta, os animais, o povo e sua cultura, tudo realmente era super especial. Decidimos então passar os últimos dias de nossas férias numa daquelas aldeias indígenas. Conseguimos então dois guias, índios da aldeia inapí, e seguimos viagem para sua aldeia. A viagem durou seis horas de carro e mais meio dia de barco. Até que chegamos na pequena aldeia, tinham três grandes malocas coletivas além das ocas do chefe e do cacique. Tudo era muito precário, mas todos ali viviam como que satisfeitos, e aquilo me deixava perplexo, tão diferentes eram os nossos valores culturais. A maioria daqueles índios não sabia falar nosso idioma, apenas os nossos guias e uns poucos outros que já haviam saído para conhecer a cidade dos brancos. Como já tínhamos chegado à tardinha, só deu tempo de nos alojarmos numa das malocas comunitárias e conversar um pouco com aquele povo, e cheios de cansaço da viagem, caímos no sono. No outro dia, bem cedo, fomos levados por aquele povo para conhecer a sua aldeia, e até visitamos uma outra que ficava a quase duas horas de caminhada. Recebemos uma boa aula sobre a sua cultura, e uma lição de como se pode viver em harmonia com a natureza. À tarde quando retornamos, os caçadores haviam programado uma caçada para aquela noite e logo nos prontificamos a acompanhá-los. Foram feitos vários grupos e nós fomos distribuídos de forma que no grupo onde éramos colocados sempre tinha um índio que falava nossa língua. Eram umas seis e meia da tarde quando começamos a entrar nas trilhas, e em pouco tempo só estavam eu e mais dois índios embrenhados naquela escuridão da floresta, só enxergávamos por causa da claridade dos raios da lua que passavam por entre os galhos das árvores, fazendo um espetáculo de rara beleza. Para mim tudo parecia um sonho, tão fantástica estava sendo aquela aventura. Avistamos um porco do mato, corremos um pouco mais o animal conseguira fugir. Tinham se passado quase uma hora quando escutamos, à distância, um grito estridente que me arrepiou todos os pelos do corpo, parecia o grito fino de uma criança. Os índios trocaram olhares de espanto, falaram alguma coisa em sua língua nativa, e em meio ao nervosismo que contagiava a todos começamos a procurar a trilha por onde tínhamos passado, saímos dela quando tentamos pegar o porco do mato. O grito mais uma vez se repetiu e desta vez bem mais próximo. Meus guias apressaram o passo. A única coisa que me disseram foi para não parar de correr e não olhar para nada, apenas correr e correr. Novamente ouvimos os gritos e desta vez na copa das árvores sobre nossas cabeças, os índios desabalaram correndo e gritando. O pavor e o pânico estavam presentes, mesmo não sabendo o motivo, aquela angústia e desespero me fizeram gritar também. Tinha a sensação de estar dentro de um filme de terror, e que em poucos segundos algo terrível iria acontecer comigo. Corri desesperadamente. Ao chegarmos numa pequena clareira diminuímos a marcha ... não estávamos mais escutando os gritos. De repente, de uma árvore que estava bem ao nosso lado, escutamos aquele grito novamente, olhei e vi um rosto de criança, iluminado apenas pela penumbra, e de súbito senti o vento das asas de um pássaro que revoava baixo, quase raspando minha cabeça. Com o susto, corremos como loucos, parecia que aquilo não teria fim. Os gritos nos acompanharam até a saída da densa floresta. Quase chegando na aldeia comecei a me sentir mal e desmaiei. Graças a Deus fui socorrido por aqueles índios. Fiquei desacordado um bom tempo e acordei com o cacique derramando em minha boca uma beberragem super amarga. Depois que recuperei todos os meus sentidos observei o alvoroço daquele povo, e dos meus amigos. A aldeia estava toda cercada de fogueiras, e todos os caçadores já haviam voltado. Muito cansado caí novamente no sono.... Somente no outro dia é que fui saber o que tinha acontecido. Um de nossos guias explicou o ocorrido, contando a história de uma das lendas de sua aldeia que fala de um menino que virou pássaro e que atormenta os caçadores nas noites da floresta... Contou que isso aconteceu há muito tempo atrás, no inicio da história de sua aldeia, quando os deuses da floresta ainda conviviam com os mortais. O deus da noite teve um filho com uma índia, a criança recebeu o nome de Umaú. Desde pequeno Umaú se destacava por sua força e esperteza, diziam até que ele conseguia dominar as onças mais bravias daquela região com o grito que herdara do pai, despertando assim, a inveja de todos os outros guerreiros. Até que um dia, durante uma caçada, os guerreiros o espancaram e o jogaram num penhasco para que ele morresse. Quando chegaram na aldeia disseram que ele havia desaparecido e que provavelmente tinha sido atacado por algum animal, pois haviam procurado e não o encontraram. Os velhos da aldeia ficaram desconfiados, mas com a demora, do retorno do jovem guerreiro, apenas choraram sua morte. Na lua cheia, o deus da noite foi visitar a aldeia e perguntou pelo seu filho, quando lhe disseram que Umaú havia morrido, as matas se estremeceram e foi um grande alvoroço em todos os recantos da floresta, tão forte foi a dor que o deus sentiu. Com a sua dor, embrenhou-se na mata a procura de seu filho, queria encontrar seu corpo ou encontrar o animal que o havia devorado, para fazê-lo pagar pela morte de seu filho. Convocou todos os espíritos da floresta para lhe auxiliarem na busca. Foi então que ele soube o que realmente aconteceu. Os espíritos lhe contaram toda armação dos caçadores, e aonde estava o corpo de Umaú. O deus, ao ver o corpo de seu filho todo quebrado, tornou-se só ira e sua dor apagou até a luz da lua, e nunca mais quis falar com os índios. Ficou chorando sua dor e quando percebeu que nunca mais escutaria o grito de seu filho, desesperou-se. Resolveu então descer até o mundo dos mortos e resgatar o espírito de seu filho. Com muito esforço, conseguiu, só que ele não poderia voltar para seu corpo de criança já destruído, nem voltar ao convívio dos mortais. O deus então decidiu dar a Umaú a forma de um pássaro noturno, e somente assim, poderia protegê-lo nas sombras da floresta. Deu então ao pássaro o mesmo nome de seu filho. Dias depois da morte de Umaú, os índios começaram a escutar seus gritos durante as luas cheias. Umaú - o pássaro, para se vingar da traição dos caçadores, resolveu atormentá-los. Dizem os índios que o pássaro quando encontra caçadores grita bem alto, e que seus gritos os deixam atordoados, perdendo a direção de casa, e loucos morrem perdidos na mata. Diz ainda a lenda que nas noites em que se ouve o canto do Umaú, não adianta sair para caçar ou pescar, pois o deus da noite esconde toda caça e todo peixe, além de aparar o caminho dos que se encontram na mata, deixando-os perdidos... Tive então a curiosidade de perguntar porque eu havia desmaiado e porque quando olhei para o pássaro, pousado na árvore, avistei o rosto de um menino!?. O índio me falou que Umaú traz nas asas o pó da morte, uma vez que ele tinha vencido a morte com a ajuda de seu pai, e quando saiu do mundo dos mortos trouxe consigo um pouco da terra que há por lá; e quanto ao rosto que tinha visto, se tratava da marca do Umaú, era o rosto do indiozinho que foi morto pelos caçadores invejosos, e que seu pai para lembrá-lo desenhou nas costas do pássaro. O índio só não soube explicar porque eu não havia morrido, pois todos os caçadores que conseguiram sair da floresta com o sono da morte não resistiram, morreram. O velho pajé acreditava, que eu só tinha escapado porque não era da tribo, e a vingança do Umaú era apenas contra os guerreiros de lá. Dizem, que nas noites em que a lua perde o brilho o Umaú se torna uma criança e todos aqueles que o encontram podem pedir qualquer coisa que terá seu pedido atendido, o mais difícil é vencer a onça que ele monta quando deixa de ser pássaro, pois como foi tirado da terra dos mortos não pode mais colocar os pés sobre a terra dos vivos. ... No outro dia voltamos à civilização e às nossas vidas, mas nunca mais consegui esquecer aquele episódio. Procurei até um especialista em pássaros brasileiros para perguntar sobre a existência de tal ave, e ele me respondeu que não tinha nada registrado que se enquadrasse nas características lhe tinha passado. Disse ainda, que na Amazônia existem muitas espécies não catalogadas, e nestes casos, a exemplo do uirapurú, os pássaros são tão raros que dificilmente são achados pelos especialistas... Não sei o que realmente me aconteceu, mas na falta de uma explicação mais lógica fico com a Lenda do Umaú.

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